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Apesar da crise hídrica, consumo de energia elétrica no Brasil ultrapassa patamar pré-pandemia

Empresa de Pesquisa Energética registra alta de 7,7% no ano, embora reservatórios de hidrelétricas registrem baixa recorde; governo quer iniciar programa para incentivar a economia voluntária de energia em setembro. Há risco de racionamento.

Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) mostram que o consumo de energia elétrica já supera o patamar pré-pandemia. Enquanto o nível dos reservatórios não para de cair, o consumo total do Brasil em junho cresceu 12,5% em relação ao mesmo período de 2020 – sendo puxado sobretudo pelo setor industrial, com expansão de 19,4%.

Em 2021, o uso da eletricidade no país subiu 7,7% e deve continuar em alta nos próximos meses, apesar do crescente risco de desabastecimento.

Os setores comercial e residencial também registraram altas de 19% e 4,9%, respectivamente. O consumo de energia no ano é superior ao verificado em 2019, antes da pandemia. Apesar do aumento indicar melhora na atividade econômica do Brasil, o crescimento da demanda pode pressionar ainda mais o sistema elétrico. Até quarta-feira (11), o nível dos reservatórios do sistema Sudeste/Centro-Oeste (responsável por 70% da capacidade de armazenamento do país) estava em 24,64%, ante 28,92% de junho. Algumas hidrelétricas, como as da bacia do Rio Paranaíba, tinham volume de água abaixo de 15%.

“Diante de uma demanda em alta e oferta (água) em baixa, o risco é de não termos energia para todos em alguns horários do dia”, diz o professor da UFRJ Nivalde de Castro, coordenador-geral do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel). O pesquisador destaca que alguns setores, como os que gastam muita eletricidade, estão retomando de maneira mais forte porque precisam recompor o estoque reduzido durante a crise sanitária.

O Governo Federal nega o risco de racionamento, mas pretende iniciar em setembro programas desenhados para incentivar indústrias e consumidores residenciais a economizarem energia. Desde junho, o Ministério de Minas e Energia (MME) planeja medidas voltadas para grandes consumidores que, voluntariamente, se disponham a reduzir ou evitar o consumo de energia em determinados horários.

Porém, o agravamento da crise levou a pasta a também planejar compensações aos consumidores residenciais que economizarem energia – o que provavelmente será feito por meio de descontos nas contas de luz. O ministro Bento Albuquerque afirmou que o MME vai apresentar até o fim de agosto um programa de resposta da demanda.

O presidente da Associação dos Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Paulo Pedrosa, diz que o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) precisam fazer ajustes para iniciar o processo depois de definidos os parâmetros do programa. Também é necessário tempo para as empresas se adaptarem e dizerem se vão ou não aderir ao programa.

“A ideia é que as empresas façam ofertas da quantidade de energia que podem economizar e quanto querem receber”, diz Pedrosa. O valor da energia que exceder o PLD (preço do mercado à vista) deverá ser incluído como encargo na conta de luz. “Essa é uma alternativa para aquelas empresas que podem deslocar a produção para alguns horários da madrugada, por exemplo.”

Entretanto, não são todos os setores que possuem condições de aderir ao programa. O setor químico, cujo consumo aumentou 25% em junho, trabalha 24 horas por dia. Fátima Giovanna Coviello Ferreira, que é diretora de economia e estatística da Associação Brasileira da Indústria Química (Abiquim), afirma que qualquer parada precisa ser planejada com muita antecedência. Segundo ela, o terceiro trimestre é o melhor para o setor, que cresceu 9,7% no primeiro semestre.

Segundo o presidente da indústria de produtos de limpeza e higienização Start Química, Fábio Pergher, hoje não é possível reduzir um único quilowatt de energia. “Estou precisando de mais energia para produzir. Se diminuir o consumo, comprometo todo o investimento já feito e tudo vira um caos.” A empresa só paralisa as atividades para manutenção aos domingos.

O setor que registrou maior alta no consumo de energia foi o têxtil (60% de elevação). Porém, nem todos os segmentos conseguem aderir ao programa, segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), Fernando Pimentel. “Para a indústria têxtil, a redução não é factível, pois o trabalho é 24 horas. Já na de confecção há maior flexibilidade”, diz.

É preciso tomar ações rápidas para o Brasil superar a atual crise energética. O fato de possuirmos uma das matrizes energéticas mais limpas e renováveis do planeta torna o país muito vulnerável às mudanças climáticas. Por isso, é imperativo que o Brasil proteja o meio ambiente e diversifique suas fontes de energia para não sofrer problemas com a produção de eletricidade no futuro.

A Frenlogi trabalha no Congresso Nacional e junto ao Governo Federal para viabilizar mais investimentos públicos na produção de energia elétrica de outras fontes, como a eólica e a solar. Desregulamentar e desburocratizar a geração própria de eletricidade é mais uma forma de dar segurança energética ao Brasil. O momento é grave, exige medidas urgentes e a Frente está preparada para dialogar com todos os setores da sociedade em busca de soluções para a crise energética.


Fonte: O Estado de São Paulo

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