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Hidrovia Tietê-Paraná vai parar transporte de grãos por causa da crise hídrica, explica ministro da Infraestrutura

De acordo com Tarcísio Freitas, a pasta está em contato com produtores rurais e adotou medidas para manter trânsito de barcaças nas últimas semanas.

O ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, disse em entrevista nesta segunda-feira (26) que, a partir de agosto, a hidrovia Tietê-Paraná vai interromper a movimentação de cargas para reservar água necessária para a geração de energia elétrica.

“Chega um ponto, como a crise é muito severa, em que a gente vai ter que fazer uma opção. Ou a gente reserva a água para gerar energia ou a gente mantém a hidrovia operando. Quando a gente coloca na balança prós e contras dessas duas opções, nós vamos poupar água para gerar energia. Então, acredito que agora em agosto a gente já vai ter que realmente segurar mais água e isso vai impedir a movimentação no Tietê”, explicou Freitas.

O trecho do Rio Paraná tem 1.023 km navegáveis e é administrado pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT). A hidrovia se estende entre a usina hidrelétrica de Itaipu, localizada em Foz do Iguaçu, no Paraná, até as usinas hidrelétricas de São Simão, em Goiás, e de Água Vermelha no Rio Grande, localizada em Iturama, Minas Gerais.

O ministro disse que o Governo Federal está em contato com produtores rurais e tomou medidas para seguir com o trânsito de barcaças nas últimas semanas. “A gente conseguiu manter uma operação até agora em acordo com a ANA [Agência Nacional de Águas], onde a gente disponibiliza vazão em ondas. Então, a gente segura a vazão parte do dia, libera em ondas em determinados horários do dia pra facilitar a navegação. A gente poupa água e libera, só que isso não vai ser possível manter por muito tempo… “, detalhou.

O ministro reconhece que o fechamento da hidrovia implicará aumento de custos, mas ressalta que há opções logísticas na área para escoar a produção agrícola. “Na questão da hidrovia, nós temos modos substitutos; na energia, não. Eu posso transportar de caminhão e, no caso da hidrovia Tietê-Paraná, eu tenho a ferrovia chegando lá, eu tenho a rodovia”.

A decisão de fechamento da hidrovia para embarcações deve ser tomada pela Agência Nacional de Águas (ANA). Tarcísio Freitas afirmou que o comitê de crise formado para a situação da falta de recursos hídricos deve se reunir, decidir pela interrupção do trânsito e dar aval para que a ANA publique uma resolução limitando a vazão.

No final de junho, entidades como a Associação Brasileira dos Produtores de Soja (Aprosoja Brasil) e a Associação Brasileira de Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) entregaram um documento à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo em defesa da manutenção do funcionamento da hidrovia Tietê-Paraná.

A secretaria paulista afirma que, atualmente, “mais de 20 grandes comboios de cargas de várias empresas de transporte fluvial operam ininterruptamente na hidrovia, retirando diariamente das estradas mais de 2.500 caminhões, contribuindo, com isso, para a redução dos custos logísticos, de acidentes nas estradas e de emissão de poluentes na atmosfera”.

José Sismeiro, vice-presidente da Aprosoja Brasil, entende que a interrupção do trânsito irá prejudicar o escoamento de produtos agrícolas, além de aumentar os custos de produção da próxima safra com a necessidade de que fertilizantes saiam do Porto de Santos, em direção ao interior do país, em cima de caminhões. O fato deve gerar um aumento em cadeia nos preços dos alimentos. Sismeiro, no entanto, entende a necessidade do governo de priorizar a geração de energia.

Em agosto de 2020, somente o trecho do Tietê transportou 134,4 mil toneladas de milho e 94,7 mil toneladas de cana-de-açúcar. Em setembro do mesmo ano foram movimentadas 112 mil toneladas de milho e 79,8 mil toneladas de cana e, em outubro, foram 120 mil toneladas de milho e 22 mil toneladas de cana. Os dados são do Departamento Hidroviário do Estado de São Paulo.

A Hidrovia Tietê-Paraná é um importante corredor de escoamento da produção agrícola dos estados de Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS), Goiás (GO) e parte de Rondônia (RO), Tocantins (TO) e Minas Gerais (MG). Entre os principais produtos movimentados estão soja e farelo de soja, milho, cana-de-açúcar, madeira, carvão, trigo, arroz, celulose e adubos.

No fim de maio, o Sistema Nacional de Meteorologia emitiu um Alerta de Emergência Hídrica por conta da escassez de chuvas na região hidrográfica da Bacia do Paraná, que abrange os estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso do Sul, São Paulo e Paraná para o período de junho a setembro de 2021.

No dia 28 de junho, o Governo Federal publicou uma medida provisória que cria uma câmara interministerial para gestão da crise hídrica e energética. A câmara é formada pelo ministro Bento Albuquerque, de Minas e Energia; a ministra Tereza Cristina, de Agricultura; Joaquim Leite, de Meio Ambiente; Paulo Guedes, da Economia; Rogério Marinho, do Desenvolvimento Regional; e Tarcísio de Freitas, da Infraestrutura.

No mesmo dia da criação dessa câmara, o ministro Bento Albuquerque fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão afirmando que o governo não trabalha com a hipótese de racionamento de energia elétrica ou “apagão”.

A Frenlogi acompanha atentamente as consequências da crise hídrica para a produção de energia elétrica e escoamento das produções agrícolas por hidrovias do Brasil. O momento exige ações rápidas e eficientes para suprir a necessidade de eletricidade do país e manter o frete funcionando.

A Frente trabalha em conjunto com o Governo Federal, associações de produtores agrícolas – além de entidades públicas e privadas do setor elétrico – para encontrar soluções que evitem racionamentos, blecautes e prejuízos a transportadores.


Fonte: Canal Rural

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