Desafios logísticos na distribuição da vacina devem ser mitigados para avanços na imunização de brasileiros
Escolta e segurança no transporte terrestre das vacinas e planejamento estruturado em logística humanitária são pontos sensíveis destacados durante webinar realizada pela Frenlogi e IBL
- Link para o Webinar
- Download da apresentação da Dra. Adriana Leiras, coordenadora do Lab HANDs do DEI PUC-Rio.
- Download da apresentação do Sr. Roberto Ferreira Dias, diretor do departamento de logística em saúde do Ministério da Saúde – DLOG
- Download da apresentação do Sr. Otávio Meneguette, diretor da LATAM Cargo Brasil.
Em webinar promovido pela Frente Parlamentar Mista de Logística e Infraestrutura nesta segunda-feira (22), com curadoria técnica do Instituto Brasil Logística, especialistas convidados destacaram a complexidade da operacionalização de logística humanitária em casos críticos como a pandemia que vivemos, gargalos logísticos da distribuição da vacina no Brasil e cases de sucesso na distribuição atual, operacionalizadas pelo Ministério da Saúde e por companhias aéreas particulares.
O evento virtual teve abertura do senador Wellington Fagundes, presidente da Frenlogi e relator da Comissão da Covid-19 no senado, que ressaltou o desafio que é promover uma campanha de vacinação em massa no âmbito global: “imunizar a população passa por produzir, transportar, armazenar e aplicar a vacina com velocidade, segurança e capilaridade à toda a população. Sem dúvidas, a complexidade da distribuição das vacinas contra a covid-19 é um dos grandes desafios logísticos, necessitando que atuemos em território nacional para garantir que a vacina chegue ao seu destino final e em todos os municípios desse país. Isso tudo com segurança e o que é mais importante: em condições de uso. Para isso, devem ser bem estruturadas as articulações entre os diferentes modais de transporte, levando-se em conta as distâncias, condições de tráfego terrestre, aquático e aéreo.”
Destaques da webinar
O primeiro painel da noite teve como convidada a Professora Dra. Adriana Leiras, coordenadora do Lab HANDs – Humanitarian Assistance and Needs for Disasters, laboratório de pesquisas em Gestão de Operações em Desastres e Logística Humanitária do DEI PUC-Rio.
Ao falar da logística e os aspectos críticos para o sucesso de uma operação humanitária, Adriana destacou que os desafios da logística humanitária na pandemia envolvem a redução de financiamento disponível para operacionalização de ações, escassez de recursos como máscaras, cilindros de oxigênio e vacinas e a necessidade de entregar esses produtos com biossegurança, levando em consideração o aumento da demanda por produtos e serviços de saúde: “Na cadeia humanitária, a gente tem uma série de organizações trabalhando juntas para entregar ajuda a pessoas em necessidade. É preciso pessoas com competências multidisciplinares, tecnologia, logística, planejamento e estratégia de ação para diminuir danos. O Banco Mundial estima que entre 119 e 124 milhões de pessoas serão levadas à extrema-pobreza por causa da pandemia, o que mostra as consequências de longo prazo se não adiantarmos a imunização. Comida passará a ser uma preocupação mundial.”
Como forma de solução, Adriana Leiras ressaltou: “As soluções potenciais envolvem desenvolver estratégias de financiamento, como crowdfunding; desenvolver fornecedores locais de recursos e aumentar a coordenação e colaboração; na questão do transporte, é preciso desenvolver protocolos de entrega seguindo as normas de biossegurança e, por final, envolver outros atores para aumentar a capacidade logística para lidar com o aumento da demanda.”
Modal aéreo tem importância estratégica
No segundo painel, Roberto Ferreira Dias, diretor do departamento de logística do Ministério da Saúde (DLOG), demonstrou com detalhes a cadeia logística atualmente em operação para o processo de vacinação e imunização da população brasileira e abriu sua fala destacando que tudo dentro do SUS é pactuado, não existindo portanto regras impostas ou determinações por parte do Ministério da Saúde: “existe um tripé formado pelo Ministério da Saúde, pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde e o Conselho Nacional de Secretarias Municipais de Saúde. O Ministério da Saúde teve orçamento direto de 145 bilhões em 2020. Somados os orçamentos estaduais e municipais, temos algo em torno de R$ 250 bilhões. É uma estrutura grande e pesada para manter o sistema vivo.”
Sobre a operacionalização atual da distribuição da vacina, ressaltou: “o Ministério da Saúde adota desde junho de 2018 uma logística integrada e centralizada em Guarulhos para entrega de insumos. Essa centralização logística salvou muitas vidas – ainda mais por conta da redução da malha aérea durante a pandemia. Porém a operação do Ministério da Saúde é terceirizada. O Ministério da Saúde faz a aquisição e o primeiro armazenamento da vacina; essa vacina é distribuída para as centrais estaduais; e os estados distribuem entre os municípios, que são os responsáveis pelas suas salas de vacinação.”
Roberto fez importante destaque sobre o modal aéreo na distribuição atual da vacina pelo Brasil: “para distribuir a vacina em tempo real, a gente sempre faz uso do modal aéreo e ao contrário do que se pensa, não são aviões de carga e sim aviões de carreira. A gente tem auxílio de todas as companhias aéreas para manter a frequência dos voos e colocarmos as vacinas na ponta do bagageiro das aeronaves para retirarmos o mais rápido possível. Nossa carga é sempre escoltada pela Polícia Federal. Temos sempre viaturas para deslocar até as centrais de refrigeração dos estados. Quando essa carga chega nos estados, a responsabilidade da segurança fica por conta das polícias estaduais e esta tem sido uma preocupação, pois houve aumento de registros de roubo de cargas da vacina no transporte terrestre, o que demonstra um dos desafios da logística de distribuição”, concluiu Roberto Dias.
No terceiro e último painel proposto, Otávio Meneguette, diretor da LATAM Cargo Brasil, destacou a importância do modal aéreo na estratégia de logística da saúde e em contingências, atuando atualmente em parceria com o Ministério da Saúde na distribuição da vacina: “a Latam Cargo é a unidade de cargas do maior grupo de transporte de cargas da América Latina. Temos 11 cargueiros, 75 aviões wide body (longa distância) e 245 narrow body (voo doméstico). As frotas são complementares. Temos que executar vários processos com excelência para garantir que aquele medicamento ou vacina saia da China, por exemplo, e chegue ao destino com excelência. O monitoramento ocorre 24 horas por dia, do embarque até a entrega. (…) É uma operação muito sensível, que demanda muita atenção, muitos processos e equipes preparadas.”
Sobre a segurança e os processos realizados pela Latam Cargo no transporte da vacina, Otávio apresentou dados relevantes: “até 18 de março, transportamos 42,4 toneladas para 12,5 milhões de doses de vacinas contra a covid-19. A Latam Cargo não perdeu nenhuma dose de vacina até o momento. A Latam possui o plano Avião Solidário: fazemos o transporte das vacinas contra a covid-19 de forma gratuita, com zero cobrança. Também transportamos nos porões dos aviões respiradores e outros equipamentos. O nosso papel é tentar viabilizar ao máximo o transporte das vacinas dentro das nossas possibilidades”, finalizou o diretor da companhia aérea.
Para o vice-presidente executivo do Instituto Brasil Logística, Tiago Lima, que organizou webinar, o debate trouxe dados significativos e informações relevantes e desconhecidas da grande população: “nosso objetivo foi cumprido com um webinar rico em conteúdo. É preciso entender o processo logístico, a complexidade e valor que essa cadeia de serviços representa para a saúde da população e da retomada da economia do país, neste momento delicado em que o Brasil passa,” concluiu Tiago Lima.
Confira a videoconferência na íntegra no Canal do youtube da Frenlogi – https://www.youtube.com/watch?v=1nN3DdHQ7c4