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Com alto nível de reservatórios, barragens do Rio São Francisco são aliadas para superar crise energética

Barragens do Rio São Francisco tornaram-se determinantes para enfrentar a crise hídrica que prejudicou a Bacia do Rio Paraná, no Sudeste e Centro-Oeste.

O Rio São Francisco tornou-se o “salvador da pátria” para enfrentar a crise hídrica e energética brasileira. Devido ao bom nível dos reservatórios do rio na Região Nordeste, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) autorizou no início de outubro o aumento da vazão das barragens hidrelétricas para compensar a redução na geração das usinas do Sudeste e Centro-Oeste.

Mesmo castigado pela constante degradação ambiental, ocupações irregulares de suas margens e anos sucessivos de seca, o rio sobrevive e é um dos principais aliados do país no enfrentamento no combate ao risco de racionamento de energia. Neste mês de outubro e em novembro, boa parte da energia que vai alimentar o Brasil e que ajudará a aliviar a situação drástica encarada nos reservatórios – principalmente na Bacia do Rio Paraná – vai sair das águas do Velho Chico.

O maior reservatório do Rio São Francisco, o de Sobradinho, na Bahia, hoje está com 38% do volume total (cinco anos atrás agonizava com apenas 3% da água que é capaz de armazenar). Por isso, a ordem agora é fazer uso de boa parte dessa água e ampliar a vazão rio abaixo.

No início deste mês, a estatal Chesf, da Eletrobras, acatou a determinação do ONS para abrir as torneiras do São Francisco. A barragem de Sobradinho é o maior reservatório do Brasil em área alagada – possui 4.200 quilômetros quadrados e, em volume, pode acumular 28 bilhões de metros cúbicos de água. Sobradinho só fica atrás da capacidade da barragem de Serra da Mesa, na Bacia do Rio Tocantins, que tem uma calha mais profunda e chega a armazenar 43,2 bilhões de m³ de água. Serra da Mesa está com 23% de sua capacidade total.

Na semana passada, o volume de água liberado pela barragem de Sobradinho foi elevado de 1.300 m³ por segundo para 1.600 m³/s. Caso as previsões de chuvas para região se confirmem, a tendência é que esse volume aumente ao longo de outubro e novembro e alcance 2.500 m³/s, conforme as necessidades determinadas pelo setor elétrico.

A barragem de Sobradinho funciona como uma “caixa d’água” do Rio São Francisco, já que alimenta diversas hidrelétricas instaladas no curso do rio, como as usinas de Luiz Gonzaga, o complexo de Paulo Afonso e de Xingó.

Assim como fez com a barragem de Sobradinho, o ONS determinou o aumento de vazão da hidrelétrica de Xingó no mesmo período. Como a geração de energia é distribuída por um sistema de transmissão interligado em todo o Brasil – com exceção do Estado de Roraima –, é possível enviar energia de uma área para outra, como forma de tentar equilibrar o abastecimento nacional.

Com a elevação da geração nas usinas da bacia do São Francisco, o ONS confirmou que pretende cumprir as medidas previstas pela Câmara de Regras Excepcionais para Gestão Hidroenergética (CREG). O grupo, que é ligado ao Ministério de Minas e Energia, avalia o cenário e as ações em relação à crise hídrica e energética.

“Essa medida excepcional se torna viável pela melhor condição de armazenamento nesta bacia em relação à situação da bacia do rio Paraná e, também, assegura melhores níveis de armazenamento nos reservatórios localizados em outras bacias, como a dos rios Grande e Paranaíba”, declarou em nota o ONS.

Na prática, a região Nordeste – que é historicamente reconhecida pelas fortes secas enfrentadas nas últimas décadas – será a protagonista no enfrentamento da pior época sem chuvas dos últimos 91 anos, em especial na Bacia do Rio Paraná. “Os recursos energéticos da região Nordeste, no período seco de 2021, têm sido fundamentais até a chegada do período chuvoso”, informou o Operador.

A situação do São Francisco mudou drasticamente desde 2016, época em que o rio atingiu um nível mínimo inédito. Na ocasião, foi necessário desligar diversas usinas que dependem de suas águas para funcionar, interromper a navegação e houve problemas com falta de abastecimento humano. A situação de calamidade levou à liberação máxima de apenas 700 metros cúbicos de água por segundo, a partir de suas comportas, menos da metade do volume atualmente liberado. Essa foi a pior situação desde 1979, quando os militares fecharam a barragem no rio para formar o maior lago artificial do Brasil e um dos maiores do mundo.

“No passado, quando a região Nordeste estava com baixos níveis de armazenamento, o Sistema Interligado Nacional possibilitou socorrer a bacia do rio São Francisco. Hoje a situação no Nordeste é bem mais favorável, permitindo auxiliar as demais regiões do país”, pontuou o ONS.

E o protagonismo na geração de energia do Nordeste não se restringe às fontes hidrelétricas. A região registra uma participação crescente das gerações eólica e fotovoltaica na matriz energética brasileira, com novos recordes de desempenho atingidos sucessivamente.

A Frenlogi trabalha para garantir recursos que robusteçam e diversifiquem a matriz energética brasileira. O aumento da participação das hidrelétricas ao longo do Rio São Francisco é uma ótima notícia. O enfrentamento da maior crise hídrica que se abateu no Brasil nos último 91 anos exige soluções criativas.

Porém, o Brasil precisa investir mais e melhor na geração de energia e na proteção ao meio ambiente nos próximos anos. É a saída para o país não enfrentar crises parecidas futuramente. Por isso, garantir recursos que viabilizem fontes alternativas de geração de energia deve ser uma prioridade do Congresso Nacional e do Governo Federal. A Frente já exerce forte atuação parlamentar com esse objetivo, e vai trabalhar ainda mais nos próximos anos.


Fonte: Estadão

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