Após aumento da atividade econômica, venda de implementos rodoviários no Brasil pode ter melhor ano pós-crise
Puxado principalmente pelo agronegócio, acumulado até maio indica potencial para 150 mil unidades em 2021.
Puxados principalmente pelo agronegócio, pela construção civil e investimentos em infraestrutura, os fabricantes de implementos rodoviários (como reboques e semirreboques) estimam que 2021 será o ano com melhor desempenho do setor após a crise econômica de 2015 a 2017. De acordo com informações divulgadas pela Associação Nacional dos Fabricantes de Implementos Rodoviários (Anfir), o segmento de pesados pode bater o recorde de 70 mil unidades entregues em 2013.
No segmento de leves, mesmo em ritmo de recuperação menor, a produção deve atingir os níveis pré-crise. Os números de licenciamento acumulados até maio mostram expansão perto de 70% neste ano.
Apesar da retomada da produção ser uma ótima notícia, as fábricas enfrentam grandes dificuldades devido à escassez de insumos e peças, como pneus e até parafusos. O aço, responsável em média por 70% dos custos do setor, já soma cinco reajustes entre janeiro e junho. Os preços do plástico e das peças de alumínio também sofreram altas e preocupam os empresários. E para completar, o real desvalorizado encareceu as importações.
O bom desempenho do setor em volumes, no entanto, pode não se refletir nas margens de lucro das empresas.
Os fabricantes acumulam alta de 67,56% até maio no volume de emplacamentos. Foram entregues 62.552 unidades nos primeiros cinco meses de 2021, contra 37.332 no mesmo período de 2020. Somente no mês passado foram licenciados 13.909 implementos, alta de 9% sobre as 12.760 unidades de abril. A comparação com 2020 é parcialmente prejudicada porque o setor enfrentou retração de produção e entregas entre o fim de março e início de maio do ano passado, por conta das medidas mais severas de restrição impostas pelo combate à covid-19. Mas se comparado ao mesmo período de 2019, quando a indústria passava por recuperação pós-crise econômica, a alta ainda é expressiva e chega a 33,81% sobre os 46.745 implementos licenciados na época.
“Um ano acima da expectativa e de crescimento extraordinário. Estamos com um volume de produção de 380 unidades por dia. Esse é um índice muito alto”, afirma José Carlos Spricigo, presidente da Anfir. A média mensal de emplacamentos está em pouco mais de 12,5 mil unidades. Projetada para o ano, somaria 150 mil implementos entregues.
O melhor ano do setor foi 2011, com o licenciamento de 190 mil unidades. Entretanto, os próprios fabricantes não consideram esse volume como referência porque as vendas foram incentivadas, na época, por uma política de juros subsidiados. Em 2013 foram 178 mil produtos, considerado o recorde mais realista. Em 2015, já no cenário de crise econômica, foram 88 mil implementos emplacados.
Spricigo afirma que o agronegócio é o grande impulsionador do setor, responsável por 60% das operações. Houve um envelhecimento da frota entre 2015 e 2017, e o processo de renovação e substituição dos equipamentos no campo está puxando as vendas. “O crescimento do agronegócio tem impacto direto no nosso mercado”, afirma. Além disso, a volta da construção civil e as novas concessões de infraestrutura “potencializam os negócios”. “Dois terços do PIB brasileiro rodam em semirreboques.”
A expansão no emplacamento de reboques e semirreboques, a linha pesada, chegou a 82,93% no acumulado do ano, com a entrega de 36.779 unidades. Mantida a média mensal, o segmento pode fechar 2021 com o recorde de 88 mil unidades entregues em um ano. Em maio foram licenciados 8.007 produtos, alta de 7,14% sobre os 7.473 implementos registrados em abril.
Houve crescimento no acumulado do ano em todas as famílias de produtos. No segmento de leves – que equipa principalmente os caminhões que circulam nos grandes centros urbanos –, a alta foi de 49,61%, com 25.773 licenciamentos no ano. Em maio foram entregues 5.902 unidades, expansão de 11,63% sobre o mês anterior, quando foram emplacados 5.287 produtos. Também nesse segmento houve expansão em todas as famílias de produtos.
O bom desempenho do setor em volumes, no entanto, pode não se refletir nas margens das empresas. Um dos principais insumos do setor, o aço, acumula alta de 79% entre janeiro de 2020 e maio deste ano, segundo cálculo da Anfir citando números da Fiesp. E a falta de insumos e peças se agravou no período. Uma das fabricantes teve de trazer pneus da Índia para entregar seu produto rodando. “Até parafusos tivemos falta. Com a alta do dólar, as importações caíram e só restou o mercado interno para atender a demanda. Então os fabricantes locais não conseguiram atender esse aumento de procura e houve falta de alguns produtos”, conta Spricigo, que acredita numa melhora desse cenário já no segundo semestre.
José Carlos Spricigo prevê queda na margem no segundo semestre e alerta para o risco de manter a carteira de encomendas com perfil mais longo. “Uma carteira acima de 90 dias fica mais suscetível à variação de custos”, avalia o dirigente. Apesar do bom desempenho, resta ao setor se financiar junto aos bancos.
A volta dos melhores momentos do setor abriu espaço, neste ano, para movimentações importantes. O nível de emprego no setor, que foi de 50 mil antes da crise econômica para 32 mil nos piores anos, está pouco acima dos 45 mil postos hoje. E não se descarta algum movimento de concentração de mercado. “Não acredito em novos operadores [fabricantes]. Pode ocorrer, sim, consolidação. Hoje temos 130 fabricantes de pesados e mais de mil na linha leve”, afirma o presidente da Anfir.
A retomada da produção de implementos rodoviários no Brasil serve como termômetro para avaliar o desempenho da economia. Os setores produtivo, industrial e de transportes do país traçaram novos protocolos, continuaram a trabalhar e se desdobraram para atender as demandas da sociedade após o início da pandemia. A forma de comprar bens e contratar serviços mudou, e esses setores evoluíram para acompanhar a mudança.
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Fonte: Valor Econômico